EMILIANO DI CAVALCANTI O pintor Emiliano Di Cavalcanti nasceu em 6 de setembro de 1897. Naquela época, o panorama das artes plásticas no Brasil era bastante desolador: a pouca informação, conjugada ao tradicionalismo conservador das elites vigentes deixavam o cenário da pintura a depender ainda de ecos das já ultrapassadas correntes artísticas européias. Nesse contexto, tornaram-se muito importantes as exposições de Lasar Segall, em 1913, e de Anita Malfatti, em 1917, esta duramente criticada. Esses dois episódios fazem parte da história de um movimento em direção às correntes modernistas européias, que iria culminar na Semana de Arte Moderna de 1922. Di Cavalcanti já era um artista de talento bastante reconhecido nessa época, e sua atuação em 1922 foi essencial: o artista foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna e uma referência importantíssima para todo o grupo modernista e, desde então, para a história das artes plásticas no Brasil. Di Cavalcanti era um intelectual muito bem informado sobre as vanguardas modernistas do seu tempo, interessado não só por artes plásticas, mas por outras áreas também. Por isso mesmo, em 1921, o artista fora convidado a ilustrar o livro “Balada do Cárcere de Reading”, de Oscar Wilde, um dos mais significativos escritores contemporâneos. Em 1923, Di Cavalcanti realiza viagem a Paris, freqüentando o ambiente intelectual e boêmio da época e convivendo com Picasso e Braque, entre outros, numa relação de admiração mútua. Sua experiência do contato com o cubismo, expressionismo e outras correntes artísticas inovadoras, conjugadas à consciência da sua posição de artista brasileiro, concorreram para aumentar a sua convicção no propósito de ousar e destruir velhas barreiras, colocando a arte brasileira em compasso com o que acontecia no mundo. Di Cavalcanti sabia estar no caminho certo esteticamente e a viagem a Paris só reforçou as suas certezas. Entretanto, o ambiente do pintor não era o dos boulevares de Paris: Di Cavalcanti estava impregnado dos trópicos, de uma atmosfera sensual e quente. À sua ousadia estética e perícia técnica, marcada pela definição dos volumes, pela riqueza das cores, pela luminosidade, vem somar-se a exploração de temas ligados ao seu cotidiano, que ele percebia com vitalidade e entusiasmo. A profunda inclinação aos prazeres da carne e a vida notívaga influenciaram sobremaneira sua obra: o Brasil das telas de Di Cavalcanti é carregado de lirismo, revelando símbolos de uma brasilidade personificada em mulatas que observam a vida passar, moças sensuais, foliões e pescadores. A sensualidade é imanente à obra do pintor e os prostíbulos são uma de suas marcas temáticas, assim como o carnaval e a festa, como se o cotidiano fosse um permanente deleitar-se. A originalidade de uma cultura constituída por um caldo de referências indígenas, européias e africanas, de forma contraditória e única, transparece em suas telas através de uma luminosidade ímpar. Marcada pela evolução constante em direção a uma técnica cada vez mais acurada, a obra de Di Cavalcanti pode ser situada numa tradição interpretativa do Brasil. Hoje, o pintor é um dos mais populares artistas brasileiros, alcançando enorme prestígio também no exterior: suas obras são disputadíssimas nos leilões internacionais, imprescindíveis a todas as coleções latino-americanas. A pintura de Di Cavalcanti representa toda uma imagem do país no mundo afora, ressaltando a sua exuberância natural e humana: é indiscutivelmente figura chave da arte brasileira. Todo o seu entendimento tem passagem obrigatória por Di Cavalcanti. CRONOLOGIA |
1897 – Nasce Emiliano Augusto Cavalcanti de Älbuquerque e Melo, no Rio de Janeiro.
1914 – Publica sua primeira caricatura na revista “Fon-Fon”.
1916 – Participa do I Salão dos Humoristas.
- Muda-se para São Paulo.
1917 – Primeira exposição individual na redação de “A Cigarra”, em São Paulo.
1919 – Ilustra o livro “Carnaval”, de Manuel Bandeira.
1921 – Ilustra “Balada do Cárcere de Reading”, de Oscar Wilde.
1922 – Participa da Semana de Arte Moderna, fazendo a capa do catálogo e expondo 11 obras.
1923 – Viaja para Europa, fixando-se em Paris como correspondente do jornal “Correio da Manhã”.
1925 – Volta ao Brasil, morando no Rio de Janeiro.
1929 – Pinta dois murais para o Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.
1935 – Muda-se novamente para a Europa.
1937 – Medalha de ouro com a decoração do Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira, na Exposição de Arte Técnica, em Paris.
1940 – Volta para o Brasil, fixando-se em São Paulo.
1941 – Ilustra o livro “Uma noite na taverna / Macário”, de Álvares de Azevedo.
1947 – Expõe na Galeria Domus, no Rio de Janeiro.
1953 – Ganha, com Alfredo Volpi, o prêmio de melhor pintor nacional na II Bienal de São Paulo.
1954 – Retrospectiva da sua obra no MAM – RJ (Museu de Arte Moderna).
1955 – Publica “Viagem de minha vida”, livro de memórias.
1956 – Recebe primeiro prêmio na Mostra de Arte Sacra, na Itália.
1960 – Recebe medalha de ouro por sua participação com sala especial na II Bienal Interamericana, no México.
1963 – Homenageado com sala especial na VII Bienal de São Paulo.
1964 – Exposição comemorativa dos seus 40 anos de artista, na Galeria Relevo, RJ.
- Publica o livro “Reminiscências líricas de um perfeito carioca”.
1971 – Grande retrospectiva de sua obra no MAM – SP (Museu de Arte Moderna).
1976 – Morre no Rio de Janeiro, a 26 de outubro.
FONTE: www.pinturabrasileira.com