18 de fevereiro de 2011


O Violino
O violino surgiu na Itália no começo do século XVI, como uma evolução de instrumentos de corda friccionada, o rebec, a vielle e a lira da braccio. Gasparo Da Salo (1542-1609), Andrea Amati (1505-1578) e Gaspard Duiffoprugcar (1514-c. 1571) são considerados os nomes essenciais do artesanato (ou lutheria) do violino. Com De Salo e Amati surgem as duas célebres escolas de lutheria, a de Brescia e a de Cremona. Nesta ultima, a dinastia dos Amati atinge sua supremacia com Nicola Amati, neto de Andrea e mestre de Antonio Stradivari (1644-1737). Um outro renomado luthier foi Guarnerius (1698-1744), chamado “del Gesú”. Na França, a lutheria do violino está associada a cidade de Mirecourt e aos nomes de Nicolas Lupot (1758-1824) e Jean-Baptiste Vuillaume (1798-1875) .
A forma do instrumento constitui um exemplo de desenho do renacimento italiano, com as considerações de equilíbrio de superfícies e de volumes típicas da época. Aparentemente, as dimensões dos violinos e violoncelos seguem a relação de proporções matemáticas conhecidas como “proporção áurea”. Tudo indica porém que a evolução do instrumento se deteve depois da morte de Stradivari. Algumas mudanças menores foram feitas no século XIX, como na extensão do braço, no ângulo do espelho e na altura do cavalete, com o objetivo de produzir um som mais intenso e brilhante. O fato de o instrumento praticamente não ter mudado em mais de 250 anos ilustra bem o extraordinário nível artístico e tecnológico alcan»cado pelos luthier italianos do século XVI.
Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 30, n. 2, 2305 (2008)
www.sbfisica.org.br

Fisica do violino
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Fisica do violino - Presentation Transcript
  1. A Física do Violino Prof. Jose Pedro Donoso (IFSC – USP)
  2. O violino é constituído por cerca de 35 peças No tampo superior da caixa de ressonância há dois orifícios na forma de “f “ localizados simetricamente em relação ao eixo longitudinal. Eles comunicam as vibrações do ar dentro do violino com o exterior. O cavalete atua como um transdutor mecânico, os modos de vibração tranversais das cordas em modos vibracionais da caixa de ressonância. Ele atua também como filtro acústico, suprimindo Fletcher & Rossing: Physics of Musical Instruments certas freqüências indesejáveis.
  3. Yves Guilloux, Le Monde de la Musique (Paris, Mars 1996)
  4. Scientific American 207, 79 1962 A alma do violino (sound post), é um palito cilíndrico da grossura de um lápis e que se apóia entre os dois tampos. Ela se mantém nessa posição devido à força exercida pelas cordas sobre o cavalete (bridge). A alma tem duas funções, uma acústica e uma estrutural.
  5. Lutherie A arte de fabricar os violinos foi consolidada pelas famosas famílias italianas, os Amati, Stradivari, Guarneri e Ruggeri que formaram uma linha de sucessão que floresceu na cidade de Cremona desde 1550 até 1750.
  6. Fabricação de um violino http://library.thinkquest.org
  7. Corte da madeira na fabricação dos tampos O tampo inferior se fabrica cortando a madeira de forma longitudinal e colando depois seus lados externos. Rossing, The Science of Sound Massmann & Ferrer, Instrumentos Musicales
  8. Os Amati, em Cremona, foram os responsáveis pela forma clássica do violino atual, a redução da altura do corpo, a forma das entradas laterais (“C “) e a forma das “f”. Os desenhos atingiram sua perfeição nos tempos de Niccolo, neto de Andrea Amati. Na França, a cidade de Mirecourt abrigou os grandes luthiers: Lupot (1758-1824), Charles François Gand e seus filhos (1787-1845), os irmãos Bernadel (1866) e Jean Baptiste Vuillaume (1798-1875). O fato de o instrumento praticamente não ter mudado em mais de 250 anos ilustra bem o extraordinário nível alcançado pelos luthier italianos do século XVI
  9. Os três grandes nomes do começo da lutherie de violinos são: - Gaspard Duiffoprugcar (Lyon, 1562) que adicionou a 4a corda - Gaspar di Salo (1542 – 1609) fundador da escola de lutherie de Brescia - Andrea Amati (1505 – 1578) fundador da escola de Cremona Giovanni Paulo Maggini (1580 – 1630), discípulo de di Salo, desenhou a forma atual do violino e construiu os primeiros cellos e altos Nicolas Amati, responsável pela supremacia da escola de Cremona. Foi mestre de Antonio Stradivarius (1644-1737), que fabricou cerca de 1200 violinos, dos quais uns 550 se conservam até hoje. Joseph Bartolomeu Guarnerius (1698-1744), “del Gesu”. Nicolo Paganini fez celebre este luthier, tocando no seu violino “il Canone”. Le Monde de la Musique, numero 197, Mars 1996
  10. Violino Stradivarius www.gussetviolins.com
  11. Os físicos e o violino Os físicos sempre se sentiram cativados por este instrumento, seja para estudar suas propriedades acústicas ou apenas como instrumento de executar música Muitos físicos contribuiram para a compreensão de suas propriedades: Felix Savart (1791–1841) H.V. Helmholtz (1821-1894) Lord Rayleigh (1842-1919) C.V. Raman (1888-1970) F. Saunders (1875 – 1963)
  12. Hermann von Helmholtz (1821 – 1894) Em 1863 publica a obra “On the sensations of tone as a physiological basis for the theory of music”, onde descreve a fisiologia do ouvido e estudos de acústica física. Estudou a ressonância de cavidades e elucidou o tipo de vibração que distingue a corda excitada por um arco (bowed string) da corda tangida (plucked string)
  13. Felix Savart (1791 – 1841) utilizou o método de Chladni para visualizar os modos de vibração de tampos de violinos Colaborou com o luthierJoham Batiste Vuillaume no desenho de novos instrumentos da família do violino, incluindo o octobasse, de 3.45 m de altura, três cordas e uma caixa acústica de 2.1 m J. Acoustical Soc. Am. 92, 639 (1992)
  14. Chandrasekhara V. Raman (1888 – 1970) Premio Nobel por seu trabalho sobre espalhamento da luz (1930) Raman trabalhou também em acústica de instrumentos musicais. Utilizando um mecanismo para controlar a arcada, ele mediu os efeitos da velocidade e da posição da arcada. Desenvolveu a teoria da vibração que o arco produz nas cordas do violino e foi o primeiro em investigar a natureza harmônica dos instrumentos indianos. "The Small Motion at the Nodes of a Vibrating String", Phys. Rev,, 1911 “The Dynamical Theory of the Motion of Bowed Strings", Bull. Indian Ass. Cultiv. Sci. 1914 "Dynamical Theory of the Motion of Bowed Strings", Bull Indian Ass. Cultivation Sci. 1914 • "On the 'Wolf-Note' of the Violin and Cello", Nature (London). 1916 "On the Mechanical Theory of the Vibrations of Bowed Strings and of Musical Instruments • of the Violin Family, with Experimental Verification of Results - Part 1", • Bulletin, Indian Association for the Cultivation of Science, 1918 •
  15. Frederick Saunders (1875 – 1963) Conhecido pelo acoplamento Russell & Saunders da física atómica, estudou também as propriedades acústicas de instrumentos de corda. Saunders desenvolveu um método para analisar a resposta acustica dos instrumentos utilizando um analisador heteródino. Colaborou com a luthier Carleen Hutchins no desenho dos instrumentos do octeto da Membro fundador: família do violino. - Catgut Acoustical Society - Acoustical Society of America. J. Acous. Soc. Amer 73, 1421 (1983)
  16. Berlim: sonatas com Max Planck Princeton: música de Câmara com Nicholas Harsanyi, David Rothman e Valentine Bargmann Holanda: Paul Ehrenfest (piano) The Physics Teacher 43, 286 (2005)
  17. Afinação das cordas As cordas do violino estão Sol3 (G3) : 196 Hz afinadas em quintas: Re4 (D4) : 293.66 Hz  f1  3 Lá4 (A4) : 440 Hz  = f  2 Mi5 (E5) : 659.26 Hz  2  Mi   La   Re   = =  = 1.498  La   Re   Sol 
  18. Cordas Ré, Lá e Mi do violino Microscopia eletrônica Ampliações: 90×, 120× e 300× Diâmetro das cordas: 0.75, 0.65 e 0.25 mm Equipamento: Digital Scaning Microscope Zeiss Laboratório de Microscopia Eletrônica, IFSC - USP Técnico: Nelson Jose Heraldo Gallo
  19. Tensão das cordas Freqüência de vibração de uma corda tencionada: 1 T f = 2L µ Freqüência da nota Lá: f = 440 Hz Densidade linear da corda: µ ≈10 mg/cm ⇒ T ≈ 82 N Comprimento da corda: L ≈ 32.5 cm A tensão total das 4 cordas é, portanto, da ordem de 220 – 300 N
  20. Força estática sobre o tampo superior θ1 ∼ 6o θ2 ∼ 13o TAcosθ1 - TBcosθ2 = 0 TAsenθ1 - TBsenθ2 + F = 0 Considerando a tensão total: TA = TB ≈ 260 N, obtemos: F ≈ 90 N Para que este tampo não ceda com o passar do tempo, ele tem uma forma arqueada. A alma do violino também dá suporte mecânico a estrutura.
  21. Elasticidade das cordas Y= tensão = (F / A) deformação (∆L / L ) Y = 200 GPa (aço) Y ≈ 3 GPa (nylon) As cordas do violino são confeccionadas em aço. Corda mi : tração F ≈ 63 N, diâmetro ≈ 0.2 mm ⇒ Deformação tolerada pela corda: (∆L/L) ∼ 1% As cordas de aço são capazes de suportar uma tensão de 520 MPa (valor de ruptura). Este valor é cerca de três ordens de grandeza menor que o módulo de Young do aço. Por isso que a corda se rompe quando a deformação relativa for maior que 1%
  22. Corda Lá (quebrada) Ampliações: 60× e 200× A deformação tolerada pela corda de aço é 1%. Como o comprimento da corda do violino, desde a cravelha até o microafinador, é de ∼34 cm, basta uma volta na cravelha para consumir esse 1% de tolerância. Ao apertar-se um pouco mais a cravelha, a corda rompe-se.
  23. Modos normais de oscilação de uma membrana Frequência dos modos normais de vibração (m,n) de uma membrana retangular de lados a e b: n m f =C  +  a  b  C : constante que depende da tensão e da densidade superficial da membrana Massmann & Ferrer: Instrumentos Musicales
  24. Modos normais de oscilação de uma membrana Membrana oscilando nos modos (2,1) e (3,2). No modo (3,2) o movimento no eixo x é análogo ao de uma corda oscilando no modo n = 3, enquanto que no eixo y é análogo ao de uma corda oscilando no harmônico m =2. Massmann & Ferrer: Instrumentos Musicales
  25. Modos normais de oscilação Contrução gráfica dos modos resultantes das combinações: a)(2,0) – (0,2) b)(2,0) + (0,2) c)(2,1) – (1,2) d)(2,1) + (1,2) Fletcher & Rossing: The Physics of Musical Instruments Modos 1, 2 e 5 do tampo inferior. São considerados os mais importantes para definir a afinação tonal das placas. Frequências: tampo superior: 80, 147 e 304 Hz (razão 1:2:4); inferior: 116, 167, 349 Hz.
  26. A figura ilustra a transmissão da vibração das cordas para o cavalete e para a caixa de ressonância do instrumento. A alma comunica as vibrações ao tampo inferior, e a barra harmônica ao tampo superior. Desta forma consegue-se movimentar uma grande área (os tampos superior e inferior) e a sonoridade aumenta. Som e Audição Biblioteca Cientifica Life
  27. Ressonador de Helmholtz Ressonância do ar dentro do volume Os dois orifícios em forma de “f ” permitem considerar a caixa violino como um ressnoador de Helmholtz, com um modo de vibração em ∼290 Hz Science & Stradivarius; C. Gough, Physics World, April 2000
  28. A ressonância de Helmholtz Frequência de ressonância do ar dentro do volume: v A f = 2π lV v é a velocidade do som no ar, 340 m/s No violino, as “f “ no tampo superior representam a boca da cavidade e V, o volume do ar dentro do corpo. A ressonância principal do ar (RPA) depende então da áreas das “f ” e do volume de ar dentro da caixa do violino.
  29. Osciladores mecânico, elétrico e acústico Oscilador mecânico massa – mola: Frequência de Ressonância: d 2x dx 2 k m 2 +b + kx = F (t ) ω = dt dt m Circuito elétrico: d 2q dq q 1 L 2 +R + x = ε (t ) ω2 = dt dt c LC Sistema acústico: d 2x dx BA BA ρL 2 + R ' + x = P(t ) ω2 = dt dt V VρL B: bulk modulus do ar, ρ = densidade, A : área do orifício, V : volume da cavidade de Helmoltz, L comprimento, x deslocamento do ar
  30. Prática do oscilador forçado amortecido d 2x dx m 2 +b + kx = F (t ) dt dt m = 100 g k =3.9 N/m γ = 0.3 s-1 Frequência de ressonância e fator Q : ω = ω o 2 − 2γ 2 = 6.3s −1 mω o ω Q= ≈5 Q= ≈5 2b ∆ω
  31. Impedância e admitância do oscilador m = 0.1 kg, k =3.9 N/m, b = 0.06 kg/s Impedância mecânica: Z = b 2 + (mω − k / ω ) 2 Admitância mecânica: 1  1  Y= =  b − iχ   Z   Em ressonância: Z =b
  32. Sistema acústico: d 2x ' dx BA ρL 2 + R + x = P(t ) dt dt V 2 2  ρl B  Z = RA + ω −   A Vω  ω o ρl2ω o ρ BA A Q= ≈ ωo = = vs AR A aR A V ρl lV B : bulk modulus (1.5×105 N/m2 no ar), ρ = densidade do ar (1.2 kg/m3) A : área das f , V : volume da cavidade do violino, L comprimento do tubinho (L ≈ 1.8b), x deslocamento do ar, RA : resistência acústica e vs : velocidade do som (342 m/s)
  33. A ressonância de Helmholtz de um violino v A f = 2π lV As formas “f ” são aproximadas por elipses de área: A ≈ πab/4 V (volume) = 2400 cm3 a (elipse) = 8.5 cm ⇒ f ≈ 300 Hz b (elipse) = 0.5 cm l (altura)≈ 1.8b Esta ressonância, identificada como o primeiro modo de vibração do ar A0 American Journal of Physics 47, 201 (1979) e 61, 415 (1993)
  34. Montagem experimental para medir a frequência de ressonância de uma cavidade Function Generator BK-Precission (model 3026) Digital Oscilloscope Tektronix 60 MHz (TDS 210)
  35. Ressonância de Helmholtz de um violino e um cello Corda 1 Corda 2 Corda 3 Corda 4 Ao Q Violino Sol3 Re4 La4 Mi5 275 Hz 13 196.0 Hz 293.7 Hz 440 Hz 659.3 Hz Cello Do2 Sol2 Re3 La3 95 Hz 26 65.4 Hz 95 Hz 146.8 220 Hz
  36. Ressonâncias da caixa A caixa do violino, como todo corpo sólido, têm frequências naturais de vibração: 1- a Ressonância principal da madeira (RPM). 2- a Ressonância principal do ar (RPA). Num bom instrumento, RPM e Curvas de intensidade do som emitido RPA coincidem com as nota das por um Stradivarius de 1713 e de um violino de baixa qualidade. A cordas centrais: Re, Lá intensidade do primeiro é 10 a 20 dB maior que o segundo. Massmann & Ferrer: Instrumentos Musicales
  37. Modos vibracionais do violino Os modos normais de vibração envolvem movimentos acoplados dos tampos superior e inferior, e do ar encerrado nele: Modos do ar. O modo A0 resulta do movimento do ar pelas “f”, gerando um breathing mode. Os modos do corpo: Cn. No modo mais baixo (C1) o violino vibra num modo semelhante ao de uma barra livre. Nos três modos seguintes, em 405, 530 e 690 Hz, rotulados C2, C3 e C4, os tampos se movem em fase. Nos bons violinos o modo C3 é o principal parâmetro da resposta de baixas frequências. Modos dos tampos: o modo T1 é um modo de vibração do tampo superior e também envolve o movimento do ar pelas “f”. A vibração é asimétrica por causa da alma do violino, que está localizada numa linha nodal de T1 e num nó de A1.
  38. Modos normais de vibração A0 First air mode * 275 Hz A1 2nd air resonance * 460 Hz C1 0ne-dim. bending 185 Hz T1 Motion top plate * 460 Hz C2 Two-dim. flexure 405 Hz C3 Two-dim flexure * 530 Hz Journal Acoustical Soc. America 95, 1100 (1994), 100, 1168 (1996), 107, 3452 (2000)
  39. Modos de vibração do cavalete Fletcher & Rossing: 3060 Hz The Physics of Musical Instruments 4500-6000 Hz A ressonância mais baixa é devida a oscilação no plano (x,y) e também as oscilações perpendiculares ao plano: bending em torno do eixo y e twisting em torno de x. A ressonância em alta frequência se deve a movimentos simétricos verticais (up, down). Estas frequências são muito sensíveis à massa e à forma do cavalete.
  40. Modelos mecânicos da vibração do cavalete Lothar Cremer: The Physics of the violin Os modelos envolvem osciladores massa – mola e osciladores de torção k D ω= ω= 2 2 mo + mu mo (io + d o ) onde k é a constante da mola, D a constante do oscilador de torção, do a distância da massa concentrada e io o raio de inércia de massa da parte superior mo.
  41. Resposta Acústica de um violino Guarneri del Gesu Resposta acústica de um Guarneri, mostrando a ressonância do ar (A0), as do corpo (C3 e C4), uma do tampo superior (T1) e as ressonâncias em torno de 2.5 KHz, do cavalete (bridge hill). Fletcher & Rossing: The Physics of Musical Instruments
  42. O cavalete como filtro acústico “passa – baixas” f ≤ 1300 Hz: som cheio, muito valorizado no instrumento 1300 - 1800 Hz: som nasal, indesejável f ≥ 1800 Hz som brilhante, claro Utilizando o modelo mecânico ao lado, e fazendo uma analogia com um filtro RL “passa baixas” , a frequência de corte é: 1  3b  fc =   2π  m  m = 1.65 g, b = 4.5 kg/s ⇒ fc ≈ 1.3 kHz Hacklinger, Acustica 39, 323 (1978); Bissinger, J. Acoustical Soc. Amer. 120, 482 (2006)
  43. Helmholtz motion Animação: Heidi Hereth Univ. New South Wales, Australia www.phys.unsw.edu.au/music/violin
  44. Vibração que o arco produz na corda (bowed string) Helmholtz mostrou que a vibração que o arco produz na corda é muito diferente da vibração senoidal observada nas cordas estacionárias. A descontinuidade (kink) criada, com forma de v, se desloca na corda, refletindo-se na extremidade. Quando a corda volta ser “capturada” pelo arco, recomeça o ciclo. A forma de onda de tipo dente de serra produz um espectro de som rico em harmônicos. Fletcher & Rossing: Physics of Musical Instruments
  45. Oscilação de Helmholtz Arcada “para cima”: L : comprimento da corda D : posição do ponto Q na corda Tf e TR : tempo para o ponto Q descer (slipping) ou subir (sticking) TF D = TR L − D Se D ≈ L/20 e como TR + TF = T ⇒TR = 0.95 T ⇒Este resultado indica que 95% de cada periodo a corda esta subindo, e no outro 5% esta descendo J.S. Rigden, Physics and the Sound of Music (1985)
  46. Resnick, Halliday, Krane: Física 2 Forma de onda “dente de serra” que produz um espectro de som rico em harmônicos
  47. Análise espectral de um violino tocando a corda Sol Espectro sonoro da nota Sol3 (196 Hz) A figura mostra a intensidade relativa dos harmônicos obtidos ao tocar a nota Sol (primeira corda do violino). O espectro revela a presença de cerca de 15 harmônicos intensos. Sons com muitos harmônicos soam cheios e musicalmente mais ricos. Massmann & Ferrer: Instrumentos Musicales (Dolmen, 1993)
  48. O som do violino resulta da forma de onda originada pela excitação das cordas pelo arco, influenciada pelas vibrações e ressonâncias do corpo do violino, seus tampos e o cavalete: C. Gough, Science and the Stradivarius, Physics World (April 2000)
  49. O arco do violino O arco do violino é feito de fios de crinas de cavalo (cerca de 200). As crinas são tensionadas com ajuda de um parafuso localizado no talão do arco.
  50. O arco do violino Originalmente de curvatura convexa, o arco passou por uma silhueta quase retilínea até a incorporação da forma atual. François Tourte (1747-1835) vergou a madeira do arco em sentido contrário, de forma que a tensão das crinas se mantem inalterada quando o executante pressiona o arco contra as cordas. O mesmo Tourte foi o responsável pela escolha da madeira, o pau-brasil ou Pernambuco, que combina atributos físicos como rigidez, flexibilidade e a capacidade de manter a curvatura. A. Bachmann: Encyclopedia of the violin (1966)
  51. O arco do violino Edenise Segala Alves, pesquisadora do Inst. de Botânica de São Paulo coordena os estudos de madeiras que servem de matéria-prima para a fabricação de arcos. Daniel R. Lombardi, arqueteiro do bairro Perdizes, São Paulo www.lombardiarcos.com Revista Pesquisa (Fapesp, Fev. 2003)
  52. (3) Caesialpina echinata (pau-brasil) (9) Manikara elata (maçaranduba) Artigo disponível em: www.scielo.br
  53. Crina do arco (com e sem breu) Digital Scaning Microscope Zeiss, Ampliação: 400×, 1000× e 450× Diâmetro da crina: 160±10 µm Lab. Microscopia Eletrônica, IFSC/USP Operador: Nelson Jose Heraldo Gallo
  54. Diagrama de Schelleng O diagrama indica o tipo de som gerado ao passar um arco a v = 20 cm/s sobre a corda Lá de um cello. O som do instrumento depende da força do arco sobre as cordas e a distância ao cavalete. Se o arco é aplicado a uma distância βL do cavalete, onde L é o comprimento da corda, a força máxima é proporcional a (1/β) enquanto a força minima é proporcional a (1/β2). Estas duas condições podem ser combinadas num gráfico, definindo assim a região onde ocorre o movimento de Helmholtz. J. Acoustical Society of America 53, 26 (1973); Massmann & Ferrer: Instrumentos Musicales (Dolmen, 1993)
  55. A transferência de energia no instrumento Consideremos a interface entre a corda (Z1) e o cavalete (Z2) 2 4Z1 Z 2  Z1 − Z 2  Energia transmitida: Energia refletida:   (Z 1 + Z 2 )2  Z1 + Z    Quando uma onda incide sobre a interface de um outro meio, ela se transmitira eficientemente se as impedâncias dos dois meios forem semelhantes (Z1≈ Z2, impedance matching) No violino, se Z1 ≈ Z2 toda a energia sera transferida da corda ao cavalete e praticamente nada sera refletida pelo cavalete. Mais, sem essas reflexões, não se gera uma onda estacionária na corda. Como a razão entre as impedâncias (aço e madeira) é Z1: Z2 ≈ 16:1 aproximadamente 20% da energia da arcada será trasnmitida Segundo Lothar Cremer (The Physics of the violin), o corpo do violino remove, em cada ciclo, 10% da energia armazenada da corda.
  56. Eficiência da conversão da energia Quando um violinista puxa o arco (m ≈ 60 g) sobre as cordas, o esforço que ele faz é da ordem de 0.5 N Se a velocidade da arcada for ∼ 0.5 m/s, então P = Fv ≈ 0.25 W Um ouvinte a 3 m do instrumento percebe um som de 76 dB → Nível de intensidade: I ≈ 4×10-5 W/m2 Admitindo uma irradiação sonora uniforme em todas as direções: → P ≈ (4πr2)I = 13 mW Assim, a eficiência da conversão da energia mecânica da arcada em energia sonora é superior a 5%
  57. Afinação do violino Afinador eletrônico: resolução 1 Hz Sensibilidade do ouvido para diferenciar dois sons de freqûencias diferentes: 0.3% (Para o Lá-440 Hz, isso é 2 - 3 Hz) Microafinador do violino: Parafuso micromêtrico, de 0.8 mm de diâmetro, ligado a um ganchinho que puxa (ou afrouxa) a corda do violino, aumentando (ou diminuindo) a sua frequência de vibração. Uma volta do parafuso altera a frequência em ∼ 7 Hz.
  58. Afinação do violino As cordas do violino são afinadas em quintas sucessivas:  f1  3 Sol3 (G3) : 196 Hz  = f  2  2 Re4 (D4) : 293.66 Hz  Mi   La   Re  Lá4 (A4) : 440 Hz  = =  = 1.498  La   Re   Sol  Mi5 (E5) : 659.26 Hz Para afinar o violino, o executante afina primeiro a corda Lá e depois toca duas cordas vizinhas prestando atenção aos batimentos. Se ele tocar simultaneamente as cordas Lá e Mi, por exemplo, ocorrera batimento entre o terceiro harmônico do Lá e o segundo harmônico do Mi: 3 × 440 = 1320 Hz 2 × 659.26 = 1318.5 Hz
  59. Dedilhado das notas A freqûencia de uma corda tensionada é dada por: 1 T f = 2L µ para tocar notas mais altas na mesma corda precisamos diminuir o comprimento L da corda.
  60. Intensidade dos violinos em relação aos metais Scientific American 231, 78 (1974) De quantos violinos precissamos para “balancear” os metais? I  SL1 (violino) ≈ 55 dB Nivel de Som: SL = 10 log  I   o SL2 (metais) ≈ 70 dB Se I1 é a intensidade do som de um violino, a de n violinos será nI1, então SL2 – SL1 = 10 log(nI1/I1) = 10 log(n) ⇒ n ≈ 32
  61. Pesquisas recentes em acústica de violinos Pesquisadores ativos: G. Bissinger (North Carolina, EUA) Erik Jansson (Estocolmo) Jim Woodhouse (Cambridge) Lothar Cremer (Berlin) Collin Gough (Birmingham, UK) Xavier Boutillon (Paris) John McLennan (Sidney, Australia) Akihiro Matsutani (Japon) G. Weinreich (EUA) Sociedades: Acustical Society of America 1963, Catgut Acoustical Society 1963
  62. Resposta acústica de 25 violinos high quality E. Jansson, Acustica 83, 337, 1997 Um imã de 25 mg é colado ao cavalete
  63. Em quase todos os violinos aparecem as ressonâncias do ar (Ao), do corpo (C2 e C3) e a do tampo (T1). Todos os 25 violinos apresentam ressonâncias na região 450 e 550 Hz, mais em quatro deles não foi identificado o modo T1. O estudo conclui que o modo C3 e as ressonâncias acima de 2.5 KHz (bridge hill) são determinantes na qualidade do instrumento.
  64. Corda do violino (depois das arcadas) A. Matsutani, Japan Journal Applied Physics 41, 1618 (2002) Corda Lá do violino, antes e depois de passar 100 vezes o arco. A corda fica coberta de partículas de breu. A corda e a crina ficam impregnadas com as micropartículas de breu (10– 20 µm). A fricção é determinada pela afinidade das duas superfícies, a de breu na corda e a de breu na crina. Quando as duas superfícies estão em movimento uma relativa a outra, o breu produz uma fricção relativamente pequena. (J. Beament, The violin Explained, Oxford, 1997)
  65. Imagens foto-elásticas de um cavalete de epoxi A. Matsutani, Japan Journal of Applied Physics (2002) (e) Cavalete sólido (sem “coração” nem “ouvidos”). Neste caso as força das cordas Sol e Mi são dominantes no cavalete e as tensões são aplicadas diretamente as pernas. (f) Cavalete sem os “ouvidos”. A tensão das cordas Lá e Re aparecem concentradas no “coração” (g) Cavalete sem o “coração”.As tensões aparecem concentradas na parte inferior (Matsutani, Japan Journal of Applied Physics 41, 6291, 2002)
  66. Sonoridade de cavaletes sem “coração” e/ou “ouvidos” Corda Mi: nos cavaletes com “ouvidos”, o nível de som aumenta na região de 1980 Hz, a qual corresponde ao 3o harmônico da nota Mi (660 Hz) Corda Lá: os “ouvidos” aumentam o nível de som nas frequências de 880 Hz e 2640 Hz (2o e 6o harmônicos do Lá-440) enquanto o efeito do “coração” aparece em 1320 Hz e 2640 Hz (3o e 6o harmônicos do Lá-440). (Matsutani, Japan Journal of Applied Physics 41, 6291, 2002)
  67. Força máxima da arcada O arco gera também oscilações de torção na corda. Um parâmetro importante para determinar a pressão correta do arco é a razão entre a impedância do movimento tranversal Zo (definida na superfície da corda) e impedância do movimento rotacional Zt Parâmetros utilizados por Woodhouse: Zo = 0.2 kg/s  Zt  Zt ∼1.6Zo (depende muito da corda) 2Z o   Z + Z v b  Velocidade da arcada, vb = 0.2 m/s Fbs =  o t  ≈ 0.8 N Coef. de atrito estático, µs = 0.8 (µ s − µ d )β Coef. Atrito cinético, µd = 0.3 β: posição relativa do arco, β ≈ 0.11 Schumacher, J. Acoustical Soc. Am. 96, 1985 (1994) Pitteroff & Woodhouse, Acustica 84, 543, 744 e 929 (1998)
  68. Uma nova família de instrumentos de cordas Em 1958, o compositor Henry Brant sugeriu aos pesquisadores Frederick Saunders e Carleen Hutchins construir uma família de instrumentos em escala com o violino, cobrindo toda a gama da música orquestral. Eles aceitaram o desafio e, com ajuda de J. Schelleng e outros membros da Catgut Acoustical Society, criaram uma família de oito novos instrumentos.
  69. J. Acoustical Society of America 92, 639 (1992)
  70. As dimensões dos novos instrumentos Os oito novos instrumentos foram finalizados em 1965 e comprendem desde um violino treble de 48 cm até um contrabaixo de 2.14 m de comprimento.
  71. A nova família em concerto C.M. Hutchings: Physics Today 20, 23 (Fev. 1967) J. Acoustical Society of America 73, 1421 (1983), 92, 639 (1992) www.catgutacoustical.org www.HutchinsConsort.org
  72. Referências Bibliográficas L. L. Henrique. Acústica Musical. (Fundação Gulbenkian, Lisboa, 2002). The Physics of Musical Instruments, Fletcher + Rossing (Springer, 2005) A history of violin research. C.M. Hutchins. Journal of Acoustical Society of America 73 (5) 1421 - 1439 (1983) Science and the Stradivarius. C. Gough. Physics World 27 (April 2000) Instrumentos musicales. Massmann + Ferrer (Dolmen,Chile, 1993) Na internet: University of New South of Wales, Australia: www.phys.unsw.edu.au/music Apostilas sobre acústica do violino, do violão e do piano: www.speech.kth.se/publications Página Prof Woodhouse (Cambridge): www2.eng.cam.ac.uk/~jw12
  73. Agradecimentos Prof Renê Ayres Carvalho Prof. Alberto Tannus Prof. Francisco Guimarães Profa. Ilza Zenker L. Jolly Thiago Corrêa de Freitas Nelson Gallo (microscopia) Samuel Alvarez (desenhos) Verônica Donoso (arte final)
  74. Obrigado pela atenção … Orquestra Experimental da UFSCar
  75.  Agradecimentos: http://www.violinovermelho.com.br

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